segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Imaturidade Feminina

Quantas e quantas vezes somos confrontados com a acusação de sermos imaturos por não sabermos o que queremos ou então porque sabemos, mas não estamos é a ver bem as coisas. Existe uma espécie de conformismo social em que o papel de imaturidade cabe ao sexo masculino. Sinceramente, se alguma vez foi esse o cenário vigente na nossa sociedade, hoje em dia as mulheres – como em quase tudo – estão também a assumir protagonismo nessa matéria.

Os homens sempre foram acusados pela forte presença que a figura maternal tem nas nossas vidas, de não cortarmos o cordão umbilical, de vivermos sempre sob as saias das mães e de dependermos delas em doses massivas. A verdade é que hoje em dia o sexo feminino está cada vez mais complexo nas teias que cria em seu redor. São um conjunto de características que se misturam, trazendo à superfície uma imensa incoerência entre o dizer e o fazer, entre o que se quer e o que faz por ter. Os pólos que supostamente não se deveria tocar, no caso das nossas queridas mulheres sobrepõem-se.

A grande característica do sexo masculino e a mais incompreendida é a sua simplicidade de pensamento. Não fomos nós que inventamos a cor salmão (o que raio é isso), não somos nós que dizemos não quando queremos dizer sim ou vice-versa, não fomos nós que criámos os jogos do toca e foge e sem dúvida que não fomos nós os criadores da actual promiscuidade em as relações estão mergulhadas.

Uma grande máxima diz que comportamento gera comportamento. Naturalmente que o sexo masculino é uma vitima das circunstâncias que o rodeiam, se as mulheres são incoerentes e inconstantes, é difícil não fraquejar aqui e ali. E se nós fraquejamos aqui e ali, as mulheres não têm aquele pilar que tanto ambicionam ter a seu lado. Não existe perfeição, só na nossa cabeça, nos nossos sonhos.
É o chamado ciclo de pescadinha de rabo na boca...

No fundo, é tudo uma questão de perspectiva, não sei se a imaturidade é feminina ou masculina... talvez seja mais... humana. ;)

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Conversas de Carro 2

Desta vez a viajem foi por terras algarvias. Infelizmente deparei-me com a triste realidade de ainda hoje existirem em pleno céu aberto fossas que transformam qualquer ambiente por perto simplesmente intransitável. Pois bem, enquanto conduzia a caminho de uma praia pouco invadida pelos turistas estrangeiros e portugueses que insistem em trazer a casa às costas quando é suficiente apenas uma toalha, um crema e vá uma sacola para uma ou duas sandes de courato e presunto. De volta ao caminho... Em pleno território "fossal" um jovem Eng. refere que o cheiro só nos era desagradável porque nos ensinaram assim culturalmente. Ou seja, se nos tivessem ensinado que o cheiro a merda é agradável, hoje provavelmente existiriam perfumes dessa respectiva matéria. Já Bruner dizia que existe uma dimensão fundamental para a compreensão do homem, a dimensão cultural e que nem sempre temos o cuidado de incluir esse prisma nas análises que fazemos dos nossos comportamentos. Limitamos o homem a uma dimensão biológica e psíquica. A verdade é que se hoje algumas das "normas" sociais nos são passadas assim é porque fizeram sentido em determinada altura e porque alguém as sentiu dessa forma. Se assim é será que alguma vez os maus odores poderiam ser considerados bons? Alguém se imagina a sair de casa para uma daquelas noites em que queremos estar particularmente bonitos e cheirosos e chegada a altura de escolher o perfume optar por aquele que nos faz lembrar uma ida à nossa casa de banho?

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Viagens Urbanas...

As rotinas têm aquela invariável e aborrecida característica de se repetirem sistematicamente ao longo de dias que parecem ter parcelas de dia sempre iguais aos anteriores. Associados às rotinas aparecem pequenos prazeres, que chamamos de rituais. São as rotinas que cumprimos com satisfação todos os dias, são aquelas que implicam um sorriso interior, são aquelas sem as quais o dia poderá não correr tão bem como seria esperado.
Certo ser urbano, típico no seu ar matinal pesado, rosto fechado, olhos cerrados numa conjugação de sono e birra com o despertador que sistematicamente o lembrava - tens que te levantar, tens que te levantar... - rotineiramente viaja pela cidade a caminho de um destino que é dele e possivelmente comum ao de outro alguém. Encostado com a cabeça a balançar no vidro do autocarro, enquanto vê arvores, carros, prédios a passar, enquanto vê arvores, carros, prédios, os dias que já passaram.
A diferença dos dias reside nas caras que se cruzam, nos sorrisos que se negam, eventualmente no lugar que ocupa. Mas sempre a mesma vontade, o mesmo desejo lá dentro, no seu interior a perguntar – E se a minha vida fosse a dele, ou a dela, ou daquele, ou deste?
Que pedaço de dia seria este que se cruza comigo se eu visse com os olhos de quem olho agora?
Flashes de sonho, com tempero de realidade invadem os olhos, os ouvidos, o paladar, o toque e a rotina vai mudando ao mesmo tempo que a sua vida ganha outros contornos, outras caras, outros tempos, outros espaços... E a expressão muda, a satisfação de diariamente poder fazer tantas combinações como as vidas que se cruzam no ser trajecto devolvem-lhe o sorriso, tiram-lhe o ar pesado, abrem os olhos e fazem a birra passar, com a certeza que amanhã, haverá mais vidas para sonhar...

Jazz na Gulbenkian

Estão de volta à Gulbenkian os concertos de Jazz depois de um ano de interrupção. São doze os concertos agendados, que oferecem uma grande variedade de sonoridades. Hoje tive o prazer de assistir ao concerto dos Invisible Correspondance, uma formação composta por elementos de outros dois conjuntos, os Sound of Choice (Dinamarca) e os IXI String Quartet (França). Como o nome indica, nem sempre é facil perceber a ligação entre a formação, somos confrontados com uma linha muito ligeira que separa a musicalidade do caos. Confesso que é um estilo demasiado experimental para o meu ouvido, com muita eletrónica à mistura, mas para quem tem um ouvido aberto a novas sonoridades, recomendo.
Mais importante é que numa altura em que se cortam fundos para tudo, o Jazz está de volta à Gulbenkian...
Que a aposta continue.

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Conversas de Carro



Enquanto viajava a bordo de um daqueles jipes de cidade pelas belas e imensas serras de São Pedro do Sul, a olhar pela janela concentrado na paisagem repleta de pinheiros e outras árvores ainda por arder neste nosso imenso universo verde, sou surpreendido por amiga que diz (já não me recordo em que contexto): "quando era pequena pensava em desatarraxar os pés!". Ideia peregrina que ficou logo a tilintar na minha cabeça. E se fosse possível desatarraxar os pés? E se para alem dos pés fosse possível desatarraxar qualquer parte do nosso corpo, braços, mãos, pés, pernas, cabeça... O corpo seria como uma outra qualquer peça de vestuário, escolhíamos a cabeça, os pés, as mãos que melhor se adequassem às nossas necessidades e circunstâncias.Mais fantástico seria se cada uma dessas partes já viesse programada com saber, por exemplo, uns pés de Cristiano Ronaldo, umas mãos de Miró ou Bica, uma cabeça de Bill Gates.Não sei se teria piada emprestar os meus pés a alguém ou até mesmo andar pelas ruas com outros pés senão os meus... Gosto muito dos meus pés!
Além disso dada a generalidade da estupidez das pessoas, acho que o acesso ao dons de outros seria demasiado para que o seu uso fosse apropriado, a tendência seria naturalmente olhar para a única parte que nunca perdemos de vista no nosso corpo... o umbigo!
Foto de Floris Andrea