sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sustentabilidade - pensar o problema ao contrário

Duas notícias, uma no sitio do público e outra na capa do i, fazem machete que os grupos mais vulneráveis à pobreza são as crianças e os desempregados.

Se considerarmos os dados oficiais do INE sobre a pirâmide demográfica da população residente em Portugal, verificamos que a curto trecho teremos um grave problema de sustentabilidade no recuperado estado social que o nosso primeiro tanto tem referido nos seus discursos.

De acordo com a previsões do INE até à década de 60 a nossa população sénior irá aumentar inversamente ao número de nascimentos. O resultado traduzir-se-à na incapacidade da população activa produzir o suficiente para responder às necessidades das faixas etárias nas extremidades, a população mais jovem (crianças) e a população sénior (idosos).

Ora se actualmente as crianças já são um dos grupos de risco face à situação de pobreza, sendo que as famílias com mais de dois filhos têm sérias dificuldades para responderem às necessidades básicas do agregado familiar, como iremos inverter a pirâmide demográfica? Sem mais nascimentos não conseguiremos ter sucesso na sustentabilidade do (re)descoberto estado social. Pior, mesmo havendo mais nascimentos, se não alterarmos as nossas políticas para a infância, com claros apoios à natalidade (não necessariamente monetários, mas que garantam à família e às crianças melhor qualidade de vida), o risco destas crianças viverem em situação de pobreza é elevado.

Mais grave ainda se avizinha esta situação quando lemos noticiais no jornal, entretanto desmentidas, de que o governo pondera suspender as contribuições sociais para a alimentação nos ATL (que sem outras alternativas acabam por ser o depósito natural de crianças enquanto os pais trabalham o dia inteiro para evitarem cair em situação de pobreza). Ora a ser verdade, importa referir que só mesmo quem anda muito fora da realidade pode acreditar que poupar na infância é uma forma de garantir 'sustentabilidade'. Pior, a confirmar-se esta medida, torna-se evidente que, em São Bento, existe quem não saiba que para muitas crianças (as tais que são o grupo mais vulnerável à pobreza) as refeições que comem no ATL e na Escola são as únicas que comem no dia inteiro...

Sem perceber que para uma mudança efectiva, precisamos repensar as políticas para infância, não há PEC que nos 'sustente' por muito tempo...

1 comentário:

Joaquim Ferreira disse...

Meu caro. Tem toda a razão no que diz. NO início da década de 90 do século passado, já lá vão mais de 25 anos, quando se falava nos aumentos das reformas dos professores (60 contos, dizia-se na altura, quando eu apenas ganhava 68 contos e passei para 72 contos, isto é, um aumento de apenas 4 contos - hoje, 20 euros!) e que um da teria uma reforma por completo eu dava gargalhadas e dizia: "Reforma...? Qual Reforma? Quando eu chegar à idade da reforma, não há quem me pague para eu receber... Se receber metade do que ganho já será muito... isto porque, com apenas um filho (hoje tenho 4) e sabendo que a maioria dos casais que conhecia não iam além de 1 ou 2 filhos, quando chegasse à idade de jubilar-me, só se a minha filha descontasse o dobro (leram bem, o dobro!) do salário (e isso seria impossível a não ser que se dedicasse a fazer assaltos em part-time!!) é que poderia pagar-me uma reforma tal como estava a ser paga na altura. alguns anos depois, a reforma baixou apra 80%, depois creio que para 70% e qualquer dia, já nem sei se terei os meus (pessimistas, aos olhos dos meus amigos) 50% do salário como reforma... Duvida? Tenho companheiros de tertúlia que hoje dizem: "Afinal tinhas razão... Andas muitos anos à frente." E, garanto aos leitores, não é só nisso! Se duvidam, busquem Não Não Calarei a Minha Voz Até que o Teclado se Rompa! . Depois comentem. Estamos num país governado por atrasados no tempo...