quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Viagens Urbanas...

As rotinas têm aquela invariável e aborrecida característica de se repetirem sistematicamente ao longo de dias que parecem ter parcelas de dia sempre iguais aos anteriores. Associados às rotinas aparecem pequenos prazeres, que chamamos de rituais. São as rotinas que cumprimos com satisfação todos os dias, são aquelas que implicam um sorriso interior, são aquelas sem as quais o dia poderá não correr tão bem como seria esperado.
Certo ser urbano, típico no seu ar matinal pesado, rosto fechado, olhos cerrados numa conjugação de sono e birra com o despertador que sistematicamente o lembrava - tens que te levantar, tens que te levantar... - rotineiramente viaja pela cidade a caminho de um destino que é dele e possivelmente comum ao de outro alguém. Encostado com a cabeça a balançar no vidro do autocarro, enquanto vê arvores, carros, prédios a passar, enquanto vê arvores, carros, prédios, os dias que já passaram.
A diferença dos dias reside nas caras que se cruzam, nos sorrisos que se negam, eventualmente no lugar que ocupa. Mas sempre a mesma vontade, o mesmo desejo lá dentro, no seu interior a perguntar – E se a minha vida fosse a dele, ou a dela, ou daquele, ou deste?
Que pedaço de dia seria este que se cruza comigo se eu visse com os olhos de quem olho agora?
Flashes de sonho, com tempero de realidade invadem os olhos, os ouvidos, o paladar, o toque e a rotina vai mudando ao mesmo tempo que a sua vida ganha outros contornos, outras caras, outros tempos, outros espaços... E a expressão muda, a satisfação de diariamente poder fazer tantas combinações como as vidas que se cruzam no ser trajecto devolvem-lhe o sorriso, tiram-lhe o ar pesado, abrem os olhos e fazem a birra passar, com a certeza que amanhã, haverá mais vidas para sonhar...

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