sexta-feira, 6 de abril de 2007

Uma crise de identidade(s)?

Não há muito tempo, num daqueles dias quentes e solarengos de Março, fui almoçar a Lisboa, ao seu coração. Tive oportunidade de deambular, depois de uma bela refeição com o tejo como pano de fundo e a companhia de uma amiga de longa data, pelas ruas da baixa, chiado e do velhinho bairro alto.

Habituado ao cenário destes mesmo lugares durante a noite fiquei a pensar na espantosa diferença que se encontra na forma como as pessoas, as mesmas e outras que durante a noite animam Lisboa, se fazem mostrar.

O próprio bairro alto, local onde tantas e diversas identidades se encontram, tranforma-se numa clara afirmação do lugar comum que nos refere a mundança do dia para a noite. Os bares e a gentes que deambulam pelas ruas dão lugar a uma variedade de lojas e espaços lounche onde vestuário e penteados se cruzam, onde comprar roupa e lanchar acontece num mesmo lugar, onde a diversidade da oferta é tanta como a diversidade de quem procura.

Ao entrar numa dessas lojas deparei-me com um imenso conjunto de objectos que pareciam retirados de uma tempo antigo, associados a uma expressão cultural especifica, a uma história. Roupas, sapatos, penteados, maneirismos e expressões que viveram noutros tempos. A estravagância com que as diferentes expressões se misturam, tocam, cruzam num tempo tão global e diverso é absolutamente deliciosa.

Para além da diversidade dos serviços, também os conteudos, as formas nos fazem viajar até outras decadas, não uma especifica, mas várias misturadas num século que agora começa. Dizem-me que é o natural movimento ciclico das coisas, que é a reciclagem que de tempos em tempos fazemos do bau das recordações para reviver num tempo presente excessos e histórias de um tempo passado.

Mas eu questiono-me, será?

Questiono se este pluralismo de formas e conteudos de outra hora se devem, por um lado, à abertura do mundo a uma globalização que faz a informação, conteudos e histórias de hoje se misturem com a informação, conteudos e histórias de outros tempos, ou se, por outro, esta diversidade, esta "aculturação" não é mais do que o resultado de uma vazio ideológico, de uma falta de identidade que nos leva a procurar referências antigas e distantes...

Referências que nos faltam...

1 comentário:

maresia disse...

Eu, quando vou a Lisboa, não questiono nada as minhas identidades, acho toda a gente tão feia e diferente de mim que percebo logo que sou quem sou onde quer que esteja! Não há identidade maior do que a identidade não identificável nos outros.