domingo, 29 de abril de 2007

Em Santa Comba...

... ou se tem memória curta...
... ou se está muito mal com a vida...
... ou por principio amam-se os filhos da terra...

Eu acho que é de desconfiar...

terça-feira, 24 de abril de 2007

O Verão e os cheiros...

Ontem, enquanto saía do meu local de trabalho, pela 20h30m, fui invadido pelo cheiro de erva seca caracteristico do tempo quente. Ao cheiro juntou-se uma brisa primaveril e eu reconfortei-me com um sorriso... Que bem que soube!

sexta-feira, 20 de abril de 2007

"Portuguesices" e outras coisas mais

Recentemente, na livraria da Faculdade onde tive o previlégio de estudar na minha formação inicial e onde agora continuo a percorrer o caminho para me tornar, cada vez mais, "mais" e melhor profissional, encontrei um livro que logo me despertou curiosidade e vontade de ler.

Aproveitando o facto de, na altura, ir fazer uma viagem longa de comboio até à Guarda não hesitei em comprá-lo e levá-lo para uma leitura que esperava divertida. É verdade que não li tanto como desejava na viagem, debrucei-me antes sobre a actualidade do pais, que, invariavelmente, falava do já intitulado "caso sócrates". Li os signos, para ver a minha sorte no evento que se advinhava e só depois comecei a ler o tal livro que decidi comprar e levar comigo de viagem.

Belo prefácio escrito por Augusto Reis Machado, até então desconhecido, que faz uma bela e suculenta reflexão sobre o facto natural e o facto histórico. Enquadra a experiência como confirmação da suposição que passa a ser real quando experenciada e diz-nos ainda que como as experiências são variaveis, também são variaveis os seus produtos, ou seja, o conhecimento que da experiencia retiramos. Então, tudo isto confere ao conhecimento uma dimensão mutável e variavel. Deliciosa a descrição...

Mas tudo isto para nos explicar a especificidade do facto histórico e o porquê ser tão dificil dizer o que é verdade, o que é mentira e o que é fantasia quando de história falamos. O livro é, obviamente, sobre história... Mais precisamente sobre uma pedaço de história, sobre o século XVIII português e é escrito originalmente por um oficial britânico que naquele periodo esteve ao serviço de Portugal.

O que o livro tem de valioso, se formos capazes de olhar para a sociedade actual e brincarmos um pouco com os nossos "vicios" e "defeitos", é que mostra pelos olhos de um forasteiro a cultura portuguesa em traços que ainda hoje se reconhecem na forma como nos organizamos. É por vezes brutal a forma como são descritos alguns comportamentos, chega mesmo a ser insultuoso a forma como são escritos alguns traços do nosso povo, mas vale mesmo a pena...

Eu li-o e apreciei bastante o retrato social feito pelo oficial, não tanto por acreditar no que é descrito, mas por me identificar com alguma da sua história, por me fazer sentir português e, acima de tudo, fazer-me pensar e rir na nossa sociedade e nos nossso costumes... Por ser um olhar critico, um olhar visto de cá, por alguém que vem de fora...

O livro é de Arthur William Costigan e chama-se "RETRATOS DE PORTUGAL - Sociedade e costumes".

domingo, 8 de abril de 2007

Pensar as instituições II

É relativamente unanime e consensual a ideia de que os pais estão cada vez mais necessitados de ajuda na dificil tarefa que a educação das crianças representa nos tempos que correm. Não por manifesta malvadez das crianças ou incompetência dos projenitores, mas por causa das circunstâncias que contribuem para que as crianças pareçam mais malvadas e os pais mais incompetentes.

Se 99,99% dos miudos não são efectivamente maus miudos e se, por outro lado, 99,99% dos pais não são de facto maus pais, como é que se entende este fenómeno crescente de indisciplina nas escolas e familias? Como se justifica que filhos ditem regras em casa e pais sejam subjugados às tiranias de crianças de 2 anos? Como entender que crianças de estatura "minimal" levantem a mão aos pais e imponham a sua força?

Não sei se conseguimos encontrar soluções e respostas "standard" para este problema que, de facto, afecta com um vigor crescente a forma como a sociedade se organiza e se pensa. Os pais estão realmente perdidos na ambiguidade que se criou em torno da fronteira entre disciplina e ausência desta. Os limites, ou a noção de limite está disturcida, os pais não reconhecem o que é esperado ou não que as crianças façam. A escola não sabe como dizer aos pais que os limites começam em casa e demite-se do seu papel, o papel de educadora.

Não se percebe onde, nem quando, mas, erradamente, passou-se a mensagem de que é errado frustar as nossas crianças, que o não é prejudicial ao seu desenvolvimento e, mais grave, que o choro é um fenómeno contra-natura. Os efeitos, ou consequências, do impacto que uma birra provoca numa familia são devastadores - pais desorientados, crianças a gritar e... birras satifeitas, crianças silenciadas até à próxima, até ao próximo "eu quero!".

É evidente que a estrutura familiar mudou, os filhos "exigem" os ténis de marca, os pais envolvidos nas suas tarefas laborais perdem o tempo de qualidade e esquecem-se da importancia dos momentos a sós com as crianças, dos momentos de partilha, da leitura de histórias, do brincar. Muitas vezes absorvidos por um sentimento de culpa, os pais acabam por comprar os seus filhos, sem se aperceberem que os juros serão altos, demasiados altos para que possam continuar a atenuar a sua culpa satisfazendo os caprichos das crianças.

Tudo isto origina uma falta de critérios na maneira como se educam as nossas crianças, existe um sistemático empurrar de responsabilidades entre as instituições educativas e a "instituição" familia. A escola atribui às familas a responsabilidade pelos "defeitos" dos seus novos utentes e as familias culpam as escolas pela incapacidade que estas têm em resolver e remendar os "defeitos" dos seus filhos. Neste jogo de ping-pong, quais jogadores chineses, as crianças continuam a pedir ajuda, a pedir que alguém ou alguma coisa os contenha, lhes mostre um mundo organizado e com rotinas, um mundo em que existe espaço para ser criança, para crescer dentro de limites e onde os valores, direitos e deveres surgem de forma estruturada pela naturalidade do seu desenvolvimento.

Como tive oportunidade de referir recentemente, privar as crianças de uma educução de qualidade nos mais diversos contextos educativos é expô-las a uma forma preversa de maus-tratos, permitindo que as crianças se desenvolvam em pequenos ditadores, adolescentes delinquentes e mais tarde adultos incapazes de resitir às contrariedade e frustações que a vida em sociedade acarreta. Privar as crianças de estratégias resilientes é torná-las em pequenos tiranos senhores das suas vidas e das vidas alheias.

Sabe-se que quanto mais precoces forem os comportamentos de oposição e desafio maior é a probabilidade do comportamento anti-social se tornar crónico. Na mesma lógica, quanto mais precoce for a intervenção, maior a probabilidade de prevenir esses comportamentos. É importante que se reconheça esta dificuldade que a sociedade tem em lidar com estas crianças e perceba que os problemas de indisciplina deixaram, há muito tempo, de ser exclusivos de ambientes sociais desfavorecidos e, que pelo contrário, assumem contornos preocupantes em toda a nossa sociedade.

Não é suficiente intervir no sentido de melhorar exclusivamente as competências das crianças, ou dos pais, ou dos educadores, é fundamental que todas os contextos se envolvam na resolução deste problema, procurando melhorar práticas e oferecer melhores respostas...

As crianças agradecem...

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Uma crise de identidade(s)?

Não há muito tempo, num daqueles dias quentes e solarengos de Março, fui almoçar a Lisboa, ao seu coração. Tive oportunidade de deambular, depois de uma bela refeição com o tejo como pano de fundo e a companhia de uma amiga de longa data, pelas ruas da baixa, chiado e do velhinho bairro alto.

Habituado ao cenário destes mesmo lugares durante a noite fiquei a pensar na espantosa diferença que se encontra na forma como as pessoas, as mesmas e outras que durante a noite animam Lisboa, se fazem mostrar.

O próprio bairro alto, local onde tantas e diversas identidades se encontram, tranforma-se numa clara afirmação do lugar comum que nos refere a mundança do dia para a noite. Os bares e a gentes que deambulam pelas ruas dão lugar a uma variedade de lojas e espaços lounche onde vestuário e penteados se cruzam, onde comprar roupa e lanchar acontece num mesmo lugar, onde a diversidade da oferta é tanta como a diversidade de quem procura.

Ao entrar numa dessas lojas deparei-me com um imenso conjunto de objectos que pareciam retirados de uma tempo antigo, associados a uma expressão cultural especifica, a uma história. Roupas, sapatos, penteados, maneirismos e expressões que viveram noutros tempos. A estravagância com que as diferentes expressões se misturam, tocam, cruzam num tempo tão global e diverso é absolutamente deliciosa.

Para além da diversidade dos serviços, também os conteudos, as formas nos fazem viajar até outras decadas, não uma especifica, mas várias misturadas num século que agora começa. Dizem-me que é o natural movimento ciclico das coisas, que é a reciclagem que de tempos em tempos fazemos do bau das recordações para reviver num tempo presente excessos e histórias de um tempo passado.

Mas eu questiono-me, será?

Questiono se este pluralismo de formas e conteudos de outra hora se devem, por um lado, à abertura do mundo a uma globalização que faz a informação, conteudos e histórias de hoje se misturem com a informação, conteudos e histórias de outros tempos, ou se, por outro, esta diversidade, esta "aculturação" não é mais do que o resultado de uma vazio ideológico, de uma falta de identidade que nos leva a procurar referências antigas e distantes...

Referências que nos faltam...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Pensar as Instituições

Vivemos tempos contorbados e de dificeis definições nos diversos campos de intervenção educativa. Num periodo em que os sinais do Governo são inequivocamente contorversos e por vezes incoerentes e contradiórios no que diz respeito à educação, as crianças, para quem deviam ser pensadas as escolas e outros serviços educativos, estão cada vez mais sós e isoladas nas batalhas e dificuldades que se lhes deparam.

A realidade de quem educa é diferente de quem decide.
A realidade de quem decide é diferente de quem estuda.
A realidade das crianças é a que menos conta neste processo de sistemáticos equivocos...

Cair na crítica fácil pode ser uma tendência de quem vive e procura, com humildade, pensar a "nossa" educação. Igualmente, pode-se cair na terrivel asneira de culpabilizar indiferenciadamente os agentes educativos através de atribuições externas de responsabilidades. Aceitamos a paixão que o tema suscita e afastamo-nos de uma postura que deveria receber das nossas Universidades o que elas produzem, em termos de "saber", e continuamos a cometer os erros que os outros, antes de nós, já cometeram. Mais grave é continuarmos a incorrer nos mesmos erros (repito: que outros já cometeram) sob a desculpa de serem erros normais do percurso essencial da nossa eternamente jovem democracia. A verdade é que já não é assim tão jovem...

Diz-nos a psicologia que a capacidade de aprender com os erros, sejam nossos, ou de outros é uma sinal inequivoco de intelingência, talvez seja a adapatação de que Piaget nos fala e que os étologos reforçam. Mas de adaptação vê-se pouco...

Ao afastarmos-nos do "pensar", "diferenciar", "equilibrar", aproximamo-nos do "racionalizar", "racionar", "cortar", afastamo-nos da qualidade a que uma "cultura de criança" nos exige e aproximamo-nos da indiferença pelo que fazemos do nosso futuro.

A sociedade é vitima de sistemáticas e violentas mudanças que não só nos afectam diariamente como se dão a um ritmo fernético e avassalador. A flexibilidades das nossas estruturas é escassa e perante tamanha exigência que o ritmo da modernidade nos coloca, são grande as dificuldades para não colapsarem.

É importante que os educadores se pensem e recoloquem perante as dificuldades, que garantam às nossas crianças um educação de qualidade, respeitando as dificuldades que os ritmos de hoje nos colocam, mas nunca esquecendo que numa "cultura da criança", o dever principal é educá-las. Privá-las deste direito é negligenciar o "outro", é, efectivamente, uma forma preversa de maus-tratos...