sábado, 17 de outubro de 2009

Descobriram a pólvora...

Uma análise da escola em Portugal, seja através da sociologia da educação, seja através da recente Administração Escolar, ou ainda, recorrendo à História da Educação, mostra-nos que este é um bem público sujeito às mais diversas mudanças e desafios desde sempre. Nunca houve um período em que a escola pública e o sistema educativo português não estivessem sobre polémica ou análise. A memória é que é curta...
A nossa quase certa ex-ministra da educação vem hoje afirmar que os problemas actuais "não têm paralelo na história da educação".
Na mesma lógica do que referi recentemente sobre a perversidade dos "rankings" das escolas, Maria de Lurdes Rodrigues refere que o alargamento da escolaridade obrigatória ate ao 12 anos implica "ter consciência de quais são as consequências para as escolas e para o trabalho dos professores de estarem na escola, obrigatoriamente, todos os jovens até aos 18 anos”, acrescentando o fundamento da escola pública e um princípio essencial para uma escola de qualidade e inclusiva, ou seja, que as escolas têm de “acolher e integrar todos os jovens, sem excepção, com tudo o que isso significa em termos de heterogeneidade, condições, origens, motivações e expectativas em relação à escola”.
As palavras da Ministra da Educação continuam no mesmo sentido, referindo que “se aceitamos a escolaridade longa, precisamos de aceitar que todos podem aprender e ser ensinados, mesmo os que têm dificuldades ou menos motivação”. De seguida reforça o papel do Estado, que tem a obrigação, sustentou, de "garantir que a escola pública tem e terá todas as condições, todos os recursos humanos e profissionais, todos os recursos físicos e tecnológicos, todos os recursos organizacionais e de gestão para cumprir as metas que hoje lhe atribui”.
A noticia do público finaliza acrescentando que a nossa quase ex-ministra refere que “Não podemos desistir de nenhum dos nossos jovens. Nenhuma criança, adolescente ou jovem pode ser deixado para trás”.
A minha pergunta é, onde esteve esta base ideológica na apresentação do decreto-lei 3/2008 de 6 de Janeiro, ou na insistência absurda num modelo que avaliação de professores que ninguém percebeu e que só conduziu para uma maior fragmentação entre a sociedade civil e os professores e a escola? Onde é que esteve este discurso quando se define a publicação dos resultados das provas e se permitem análises tontas e desprovidas de qualquer rigor científico? Como, expliquem-me, é que é possível, que a mesma pessoa que defende que o estado tem de garantir uma educação de qualidade que responda às necessidades de TODOS os alunos, permite que se dificulte mais o acesso aos apoios especializados?
Não sei se estes serão os maiores e mais difíceis desafios a que a escola pública tem de responder, o que sei é que são os de agora, os de hoje e que comparações com o passado não nos ajudarão, porque estaremos a comparar o incomparável. A escola de há 10 anos não pode, necessariamente, ser a mesma que é hoje e os problemas de então não podem ser comparados com os de hoje, são outros, de natureza diferente e, certamente, com respostas diferentes.
Finalizo perguntando: onde esteve, nos últimos 4 anos, a ministra que ontem discursou? Onde esteve, nos últimos 4 anos, a ministra que permitiu que o secretário de estado decretasse o que decretou com claras reminiscências ideológicas do período em que se candidatou pelo CDS-PP a uma autarquia?

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