sexta-feira, 16 de outubro de 2009

E se a política fosse um jogo de Xadrez.

São várias as analogias que se poderiam tecer entre a política e um jogo de Xadrez, desde a manipulação dos peões, dando-os "a comer" ao adversário, para não comprometer o objectivo final que é ganhar, passando pela visão estratégica que é necessária para ganhar uma partida de xadrez a um oponente que perceba, pelo menos, o mesmo que nós. Confesso que de xadrez sei muito pouco e que de política só de pensar...
Vejamos, quando estamos perante uma situação de impasse institucional, em que as várias peças do jogo estão comprometidas por uma campanha eleitoral que nada dignificou o debate político, onde tivemos homens e mulheres a gladiarem-se pela douta verdade reivindicando a exclusividade da patente, o resultado do panorama pós-eleitoral não pode ser animador. Acentuaram-se diferenças, cavaram-se fossos e, agravaram-se fissuras sem que se percebe claramente em que raio votou o eleitorado. Se nas propostas efectivas dos partidos, ou se no que os separa do ponto de vista da retórica e nas preferências pessoais que este ou aquele líder suscitam. Por exemplo, qual o impacto das propostas do CDS-PP na escolha que o eleitorado fez? Foram as propostas, ou o desagrado com as sucessivas polémicas que assombram o PSD nos últimos anos, agravadas pelo estranho silêncio de Belém e a ainda mais bizarra gestão do assessor no caso das escutas.
Qual a noção exacta que o eleitorado tem do que significa nacionalizar o sector energético e terminar com todos os benefícios fiscais, como propõe o BE? Foram nestas propostas que o eleitorado votou, ou no descontentamento com a altivez e arrogância de um governo que nunca quis nem soube dialogar?
Terá sigo esta dispersão de votos à direita e à esquerda uma forma de obrigar os partidos a entenderem-se no parlamento para que o país não corra o sério risco de paralisar durante a próxima legislatura?
A verdade é que ninguém poderá afirmar com certeza em que é que os portugueses votaram, porque a certeza das razões do seu voto cabe, exclusivamente, a cada um. Tudo o resto é especulação.
É com na base da especulação e na crença de que o eleitorado votou nas propostas e não nas quezílias pessoais e demagógicas em que a campanha se tornou, que os partidos fazem o jogo que lhes compete, afirmam a sua legitimidade para defenderem as posições e manterem o distanciamento face a uma atitude de compromisso, diálogo e tolerância perante propostas que contribuam para uma efectiva melhoria do país, independentemente do quadrante político de onde possam surgir... mais do que incompatibilidades ideológicas parecem ter-se agravado as incompatibilidades pessoais de egos tão distintos.
Foi aqui que o nosso primeiro ministro indigitado percebeu a oportunidade de aumentar o seu tempo de tolerância face aos momentos difíceis que se advinham no parlamento. Ao perceber que, genuinamente, nenhum partido poderia comprometer-se com uma coligação ou acordos parlamentares de caracter permanente, Sócrates, qual Kasparov, lança os peões que avassaladoramente todos os seus adversários partidos políticos "comeram". Estendeu a mão numa pergunta retórica para a qual já sabia a resposta... Se por um lado no espectro da direita há um não quase total, a esquerda teve uma maior abertura para possíveis entendimentos desde que respondam às necessidades económicas e sociais do país.
Só assim evitaremos que o país paralise, é necessário uma política responsável em que o pensamento dos deputados vá para além das suas "quintas" particulares e os interesses partidários, respondendo com verdade, mérito, ética e responsabilidade cívica ao papel para o qual foram eleitos, melhorar a qualidade de vida dos portuguesas.
E agora, que o jogo foi lançado e as peças coladas de forma clara em cima do tabuleiro, será preciso muito tempo para que a oposição possa de forma convincente argumentar que não tem responsabilidades perante o que vier a suceder. Ou não tivesse Sócrates dito: "Eu responderei pela pergunta que fiz, os partidos assumirão a responsabilidade da resposta que deram".
E é na resposta da esquerda que está uma pequena esperança de entendimentos pontuais, com propostas e políticas que "influenciem a governação" como Louça tem defendido e com "garantias claras de mudança" como espera Jerónimo.
Esperemos que no sentido certo...

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